sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

D'a Personagem

No outro dia, caminhava eu tranquilamente por uma das ruas da minha cidade quando, inadvertidamente, dou de caras uma das minhas personagens!

O seu nome é personagem B, é uma rapariga mais ou menos da minha idade e penso que nunca falei dela.

Estranhei ter visto assim no meio da rua, a passear de forma independente a mim, uma criação minha. Não achei estranho que ela passasse e nem reparasse em mim da forma como eu reparei nela.

Na verdade, não me lembro porque motivo a criei. Nunca lhe dei uma história, nunca lhe dei um principio, uma razão de existir. Criei-a apenas como sendo uma pessoa normal com quem eu poderia tomar uns copos, algo que, por motivos óbvios, nunca aconteceu. Como sendo uma extensão de mim.

Como se fosse alguém cuja história pudesse ser escrita comigo.
E agora encontro-a na rua...

Cada vez compreendo menos a arte de contar histórias.




A

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

D'o Homem Que Podia Ter Qualquer Mulher No Mundo...

... menos uma.


* * * *

Personagem I tem uma história singela e atípica. Desde muito novo se apercebeu que tinha um poder incrível diante das mulheres. Sem nunca ter investido muito nesse assunto, sem privar imensamente pela beleza, ou pela conversa, ou pelo engenho, simplesmente nasceu com o dom de ser desejado por todo e qualquer elemento do sexo feminino.

Para nós, meros humanos sem grandes qualidades fora do comum, pensar neste homem será sempre motivo de inveja. Ser capaz de ter qualquer mulher no mundo é sinónimo de poder. É sinónimo de uma vida sexual preenchida, é sinónimo de capacidade de persuasão para com o sexo oposto e, também com os membros do seu próprio sexo, já que todos os homens o admiram tanto quanto as mulheres o desejam.

Ao atingir a maturidade, rapidamente se inteirou do seu poder. Não se limitando a aceitá-lo, resolveu procurar mais informações sobre a sua estranha situação. Visitou vários centros de medicinas alternativas e ciências ocultas e paranormais.
Ninguém lhe soube dizer nada excepto uma macumbeira muito velhota que vivia numa casinha de palha com um cheiro engraçado.

"Meu filho, não sei como nem porque terás ficado preso a tamanho poder divino. Isto é algo que apenas está reservado para os deuses que nos observam lá de cima. Para um mortal, viver desta forma, será sempre o maior dos dons e a maior das maldições.
Aproveito também para te avisar de que o teu poder não funciona numa determinada circunstância. Numa única situação que é incontrolável para ti. Há uma mulher no mundo que não poderás ter. Há uma mulher no mundo, acerca da qual eu não tenho qualquer informação que, estranhamente, não será afectada pelo teu encanto."


* * * *

Certo dia resolvi questionar a Personagem I acerca de algo que já vinha a pensar há vários dias:

Autor - Personagem I, e amor?

Personagem I - Amor? O que tem?

A - Estive a penar... Partimos de um principio que podemos tomar como absoluto, que é o facto de o amor se dar bem em terrenos complicados. Ou seja, as relações mais complicadas e improváveis serão sempre aquelas que nos entusiasmarão mais. O impossivel será sempre o próximo passo a dar, pois é essa a mentalidade do ser humano racional e ambicioso.
Se todas as mulheres te oferecem um desafio igual, bonitas, feias, esculturais, disformes, solteiras, casadas, viuvas, ruivas, loiras, morenas, empregadas de balcão ou gestoras de recursos humanos poderosas e com ar de cabra. Como te poderás apaixonar por alguma delas? Se todas elas agirão exactamente de forma igual ao pé de ti, nunca encontrarás ninguém que se destaque das demais...
No entanto, sabemos que há uma pessoa que se destaca das demais. Foi-te informado há vários anos que há uma mulher no mundo que não reagirá da mesma forma. Tanto quanto sabemos pode mesmo ser a mulher mais improvável que existe. Pode ser uma alcóolica anónima, ou uma agricultura nepalesa, ou uma prostituta de Bangcock, ou uma merceeira chinesa, ou uma cozinheira italiana ou uma chanceler alemã!
Diz-me, posso estar redondamente enganado e iludido com toda esta situação mas, é possivel que ames a única mulher que não podes ter na vida? É possivel que a procures insessantemente em cada dia que passas na rua e que olhes para todas as mulheres à tua volta? Em cada minuto em que procuras um único olhar no meio da multidão que se pareça desviar do teu? É possivel que ames uma mulher que nunca tenhas visto na vida e que não fazes ideia do que faz, ou de onde vive, ou como é? É possivel que a procures no meio de 6,4 biliões de pessoas e que, no milagre improvável de a achares, saberes que ainda assim nunca a terás?

I - Sim...

E - Triste sina a tua...



* * * *


Personagem J é muito parecido com personagem I só que no caso dele não houve mesmo nenhuma excepção à regra. Nenhuma mulher que pise este planeta o negará nunca.

Personagem J é gay.





A