sábado, 26 de dezembro de 2009

D'o Tempo (Cronos)

Existirá tempo para além da concepção criada?
Para além das máquinas que criámos para o medir?
Para além dos eternos atrasos para o emprego?
Para além dos anos que vão passando sobre o espelho na casa de banho e que nos torna disformes?
Para além do tempo que falta para acabar o exame?
Para além do tempo que falta para começarmos a morrer?

Existirá tempo para além da sua concepção social?
Para além de todas as consequências físicas e sociais que o tempo acarreta.


Imaginemos:
Duas pessoas que não têem nada neste mundo. Que não têem nada a perder. Que não têem nada a ganhar. Duas pessoas incógnitas que nada pretendem, nada ambicionam. Estão numa experiência em que tirarão à sorte um intervalo de tempo, durante o qual terão de permanecer numa sala pequena e vazia sem qualquer entretenimento. Um deles terá de esperar nessa sala 30 segundos e o outro 30 horas.

Numa situação perfeita, se nenhum deles tem mais que fazer, o facto de ter calhado 30 segundos ou 30 horas ser-lhes-ia indiferente.
Mas mais importante que isso, passado o periodo de enclausuramento, é como se as 30 horas começassem a encolher. O tempo passado perdeu o sentido e na verdade, 3 anos depois, as 30 horas de enclausuramento terão parecido 3 segundos. Não precisamos obviamente de ir tão longe. Bastará provavelmente uma semana e a recordação do periodo passado nessa sala não será provavelmente maior do que 30 segundos. O tempo perdeu o significado, face ao futuro. Se as 30 horas foram perdidas numa sala vazia ou ganhas numa orgia romana é indiferente para o momento em que me encontro neste momento.

Ou, colocando a coisa de forma mais simplificada... O que tento demonstrar é aquela sensação de que um ano que passou da nossa vida parece mais longo do que toda a nossa vida até este momento.

Leva-me a pensar que o que dá tempo ao tempo é o facto de nos apercebermos disso num determinado momento presente e de realizarmos um raciocionio, uma comparação, de encontrarmos uma função, um motivo, uma personalidade para esse tempo. A nossa noção de tempo é, no fundo, o que temos a dizer sobre ele num determinado instante fugaz.




O tempo tornar-se-á um bom companheiro de sueca quando regado com tinto da região.



A

2 comentários:

  1. Gostei imenso...E todo o tempo que existe acaba por se resumir a tão pouco.. o tempo é algo muito relativo

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