sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

D'a Psicologia

Personagem F - E então?

Personagem G - E então... O quê?

F - E então... Qual é a tua história?

G - Como assim?

F - Como assim?! Assim que te vi a entrar, assim que te olhei de cima abaixo, que te vi o negro dos olhos, pensei: este tipo tem uma história e só pode estar aqui por ela.

G - História... Nunca fui muito bom contador de histórias...

F - Mas tens uma..

G - Hei-de ter uma qualquer, mas nem é nada de especial. As pessoas à minha volta têem sempre histórias muito melhores, mais interessantes e emocionantes do que a minha. A sua por exemplo será melhor concerteza.

F - Podes-me tratar por tu.

G - A tua será melhor...

F - ...

G - ...

F - O que fazes?

G - Neste momento estou só por aqui, sentado neste sofá.

F - E da vida? Passas a vida sentado em sofás?

G - Sou copywritter. Ou só copy, como preferires...

F - Hmm, parece interessante. Como corre?

G - Corre bastante bem. É a única coisa à qual me dedico de corpo e alma e na qual obtenho bons resultados. Permite-me levar uma vida descansada, com os meus abusos e os meus caprichos. As minhas tardes livres a partir das 17h, o meu ginásio, o meu rés-de-chão com jardim, as minhas mobílias Ikea, as minhas roupas da Boss, os meus whiskies Jameson, enfim, um típico sonho nova-iorquino, talvez. Mas mesmo aqui em Lisboa!

F - Incrível...

G - O quê?

F - A tua vida... Eu por exemplo não tenho nada disso e...

G - E...

F - E apesar de tudo. Apesar da vida que levo, sinto-me feliz.

G - HEY! Eu também me sinto feliz... Que história é essa?

F - Lamento desiludir-te mas com essa ladaínha só te enganas a ti próprio.

G - Não estou a enganar ninguém. O que te leva a dizer isso?

F - Mas que raio. Lembra-te de onde estás! Não há ninguém que entre por aquela porta que não se sinta sozinho! Eu sei-o! Sou eu que os recebo a todos e os oiço!

G - Não adianta esconder então...

F - A partir do momento em que entraste que deixaste de o esconder. Sabes isso não sabes? Eu sei que sabes... Já percebi que és inteligente a esse ponto

G - Sim... Sei...

F - Estás disposto a falar e a deixar-me ajudar-te então?

G - Não estava bem à espera disto...

F - Estavas à espera de quê?

G - De ser forte...

F - Sim, sim... Todos o querem ser, nos primeiros cinco minutos.

G - Foram só cinco?

F - Foi um bocadinho mais...

G - Seis?

F - Foi... O suficiente. Não penses mais nisso. Não estou aqui para te abalar o pouco ego que te sobra. Fala-me dos teus amigos por exemplo.

G - Acho que não tenho... Desapareceram todos por volta dos vinte e cinco. Depois vamos ficando com colegas de trabalho e conhecidos... Montes de conhecidos... Triliões de conhecidos.

F - Com quem conversas então?

G - Normalmente com a malta da empresa.

F - Sobre gajas praí?

G - Também... Mas mais sobre trabalho.

F - Com quem conversas sobre ti então?

G - Hmm.. Contigo..

F - E...

G - E... Hmm.. Mais ninguém, acho eu.. Pelo menos ultimamente.

F - Porque não o fazes?

G - Não sei. Acho que não conheço as pessoas suficientemente bem.

F - Tretas. Estás-me a dizer que não falas sobre ti com as pessoas com que te dás oito horas por dia, todos os dias... E no entanto, aqui estás tu a contar tudo a alguém que conheces há meia hora.

G - Mas tu percebes disto. Provavelmente terás anos e anos de experiência. A aturar tipos como eu. As pessoas têem a sua vida. No fundo devem ter tantos problemas com elas próprias como eu. Para que é que quererão ouvir as minhas choradeiras? A única coisa que ganharia com isso era perder os conhecidos que ainda me vão sobrando.

F - Errado. No fundo, tu é que te imaginas fechado. Construiste toda essa ideia sobre ti para que não tenhas de ter trabalho com relações humanas. Basta darem-te um pouco de corda e lá vem a fita do filme toda, não é? E essa histórias de as pessoas não quererem ouvir... Bem, a amizade é precisamente isso. Quando começas a confiar coisas que são apenas tuas e as pessoas começam a sentir que têem a tua confiança, não achas?

G - Eu sei lá... Tu é que percebes disto.

F - E namorada? Não tens uma namorada?

G - ...

F - Que pergunta a minha... Claro que não tens! Porque é que não arranjas uma namorada? Já te olhaste ao espelho? És bastante interessante até! Conheço centenas de tipos mais horriveis que tu e têem filhos até ao tecto, de 3 e 4 mulheres diferentes. Sim, nos tempos que correm não esperes ficar 50 anos com alguém... Mais vale aceitar a realidade.

G - Esquece isso.

F - Fazia-te muito bem.

G - Perdi a vontade de desiludir mais pessoas. Acho que ninguém o merece.

F - Desiludir?

G - Sim! Desapontar. Levar as pessoas a pensar que sou o tipo perfeito quando sou apenas um poço de desilusões.

F - Mas pareces ter tanto para dar..

G - E vou dando. Relações relampago. É o melhor que há. Numa noite és feliz, fazes alguém feliz e deixas uma imagem bastante bonita do que poderia ser. Uma imagem bonita que fica para sempre. Uma imagem que não será destruída pela desilusão.

F - Acho que tens razão...

G - Também sentes isso?

F - Desculpa. Quem faz as perguntas sou eu.

G - Ok...

F - Que idade tens mesmo?

G - Isso interessa?

F - Sim interessa...

G - Tenho 27

F - Foi a tua primeira vez, não foi?

G - Primeira vez? Como assim primeira vez?! Claro que não foi a primeira vez!

F - Não digo a primeira vez que o fizeste! Mas... A primeira vez que fizeste isto.

G - Que estive com... Hmm... Com uma...

F - Que estiveste com uma puta sim.

G - Sim, foi...




A

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